segunda-feira, 19 de outubro de 2009

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

na cave

havia, na minha adolescência, uma cave povoada de criaturas grunge que fumavam e bebiam
café em eternidades subterrâneas. eu passava por elas a caminho do barbeiro
(pretexto que encontrei para submergir) e, enquanto esperava pela vez, ia mirando aqueles seres marinhos de cigarros pousados num tédio cool. na cave do centro comercial encontrava-se também uma reprografia, uma loja de produtos indianos, uma discoteca falida e mais tarde
uma casa de bilhar. podia-se lá entrar directamente pelo parque de estacionamento, o que trazia irreverência e cheiro a lixo. naquele café poisavam sempre as mesmas pessoas, sempre mais velhas do que eu, numa espécie de clube do qual eu definitivamente não pertencia.
afirmava-se ali a languidez, uma revolta silenciosa e estúpida, contra-cultura proclamada por pires a fazer a vez de cinzeiros, da qual eu definitivamente queria fazer parte, imagine-se.