sexta-feira, 22 de maio de 2009

plaistow road



não conseguiu preencher a ficha
(esquecera-se dos óculos)
mandei-o entrar na mesma
e segundos depois
um homem enorme
congolês
sentado na cadeira (demasiado estreita).
nao foi possível estabelecer comunicação entre nós.


Jade, 21 anos, grávida
do segundo filho
teve hoje dois molares chumbados.
continua a nao escovar
la atrás
(assume-o com sensualidade).
chegou à consulta de pijama encarnado
e com cinco 

minutos de atraso.


há neste gabinete qualquer coisa
que me repugna
e que está representado na
turbina
quando esguicha água para todo o lado
de cada vez que
tento
brocar um dente.



o paciente das duas e cinquenta chegou só agora,
diz-me receosa a recepcionista
enquanto morde
um lápis nodoso.
mas o que ela queria saber era se eu o ia ver
mesmo estando vinte minutos atrasado
por encontrar-me ocupado a analisar uma janela,
mandei-o embora
(esbocei um gesto com a mão que na altura não me saiu muito bem).
segundos depois
do outro lado da porta ouvi
gritos
vociferações
e o som de um punho
contra uma superfície
que nao identifiquei.



a mulher asiática
com ar de quem nao dorme há 3 noites
queixou-se-me de dores
num queixal.
dores surdas
que a faziam fantasiar com a luxação,
com o espremer do osso e
com o som do sangue a escorrer pelo alveolo.
em suma,
a fantasia da extracção.
tenho encontrado esta fantasia em muitos pacientes.



de maneira que no final do dia
estava com cerca de uma hora de atraso.
a ultima doente entrou:
uma miuda de 12 anos
arrastada pela mãe, que
por sua vez,
tinha ar de troglodita.
a aparência confirmou a atitude
e corri com as duas em três tempos
como consequência do curto diálogo
ocorrido.
ao abandonar a clínica,
acanhei-me no sobretudo e
olhei em várias direcções
não fosse vir alguém
que me enfiasse uma faca
no lombo.