domingo, 13 de abril de 2008

coxa de colegial abraçada em poejo

Talvez tenha sido por a caminho do supermercado ter apanhado um fragmento de um diálogo entre um casal que discutia uma vasectomia,
sabes, quando cortam as.. os canais e já não dá p'ra-
sim sim sim sim sim sei
ou
talvez uma velha de lábio superior seco arreganhado, os dentes com uns 15 cm de comprimento; as gengivas hemorrágicas, que não se despachava na caixa, segurava uma bengala e a carteira, sem mãos para todo o resto abraçada por um casaco de malha em tudo semelhante à cabeleira cheia de borboto e migalhas terá dito com alguma violência que não queria moedas pretas ou
a rapariga da caixa, ruiva e tímida mas que me olhava muito directamente, raríssimo hoje em dia em Lisboa, a imagem do que a velha teria sido há 130 anos atrás ainda Lisboa era assim, ruiva e tímida de olhos grandes e o cheiro a mijo perto do largo do Mitelo bastante mais intenso, perguntou-me se queria sacos, pareceu-me que passou com a língua pelos lábios muito rapidamente, que imagem fornecerei eu?, que sou eu?, qual o meu volume naquele espaço?, a minha barba e o meu chapéu o que são ali?
não sei se foi tudo isso mas lembro-me de ter comprado aquele naco de colegial barrosã como se fosse hoje e no entanto o rótulo afirmava Outubro 2007. É certo que o congelei bem congelado, imaculadamente poderia dizer, não fossem as cervejas que lá rebentaram por diversas vezes devido ao prazer incompreensível de alguns amigos as quererem assim, mas seis meses não será demais para ainda estar bom, esse naco?
Tenho sempre imensas dúvidas a nível de conservação mas não quer dizer que hesite na hora de cozinhar, tal como os ovos que comi podres, por causa da fome. Cozinhei então da seguinte forma:

- ensaquei o naco com sal e vinagre balsâmico e durante meia hora assim permaneceu
- besuntei-o voluptuosamente com banha de porco (não se armem em esquisitos) e azeite
- juntei pimenta branca como que não quer a coisa e poejo em quantidades inacreditáveis
- o forno estava a 220º e assim ficou durante 45 minutos; despejei o que ficara no saco
- fiz também um arroz de tomate com tomates apanhados no Campo dos Mártires da Pátria, que são propositadamente pouco sumarentos e juntei poejo para que não se estragasse

Tudo se me apresentou delicioso e concluí que vitela no congelador deixa de ter prazo de validade e pensando bem eu também não estou tão diferente assim do que estava em Outubro.