quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

as efémeras delícias

Tenho fotografias dependuradas das paredes colei-as com fita cola cuidadosa no verso num dia em que me apeteceu fazê-lo, são de tempos longíquos e recentes ao mesmo tempo. Tenho um tapete persa e um outro do Ikea mas geralmente os amigos tendem a despejar o whiskey no primeiro. Tenho uma tarte de ovo daquelas alentejanas fabricadas no carregado em cima de uma mesa há 6 dias e pergunto-lhe da saúde - parece-me estar esborrachada de humidade que tenho um telhado antigo e tem chovido bastante e a tarte ali, amarela, ao centro da mesa (tem uma forma de alumínio que me lembra certas secções do Pingo Doce). Comprei um pão há três semanas que jaz na bancada da cozinha (o pão fica verde com o tempo) mas que por sentimento de culpa e alguns escrúpulos não o arremessei ainda pela janela. Já os bróculos do frigorífico ficam amarelos se não comidos num prazo inferior a trinta dias. Tive a certeza de que preferia bróculos salteado aos simples num serão de Fevereiro aquecido por ar-condicionado em que cozinhei arroz e ficou uma merda e houve ou havia outra pessoa que pretendeu fritar um bife no microondas, numa magnificação da utilidade deste. Por amor, adorei. Resfatelei-me depois indisposto nas costas da cadeira de faia olhei para a porta também de faia incólume de tempo, pareceu-me ver por ali uma estátua minúscula de um anjo rachado pregado ao peladur, pensei em beber um café que me acamasse a agonia e imaginei-me a tirar-lhe as cuecas puxando-as pelos lados com alguma dificuldade em ultrapassar a carne da anca.